WALTER LONGO
Sócio-Diretor na Unimark Comunicação
– Como a Tecnologia e Inovação Estimulam a Meritocracia e a Valorização do Indivíduo nas Empresas e na Sociedade –
IMPORTANTE: Este é o texto-resumo de meu novo livro a ser lançado em 2019 pela Alta Books.
Muita gente acredita que a Idade Média terminou em 1453 com a Invasão de Constantinopla. Outros acreditam que seu fim veio influenciado pela Peste Negra e um longo período de resfriamento da Europa que reduziu drasticamente a produção de alimentos e gerou revoltas populares contra os soberanos. E a própria Renascença é apontada simultaneamente como uma causa ou consequência do fim da Idade Média. Todos, no entanto, concordam que ela durou cerca de mil anos e acabou lá pelo século XIV.
Na verdade, o fim da Idade Média está acontecendo somente agora, neste século e em nossa geração. E por que dessa afirmação?
Até hoje tudo era avaliado e orientado pela média da população. Em qualquer área do comportamento humano, nossas decisões eram definidas pelo resultado médio daquele fato na população, e não individualmente por cada um de nós. Éramos tratados como grupos ou massa e nunca como indivíduo.
Na medicina, o que imperava eram os protocolos genéricos. Hoje a medicina genômica já estabelece protocolos individuais de tratamento.
Na educação fomos sempre divididos em classes por idade independente de nossa maturidade ou conhecimento. O currículo era o mesmo não importando a dificuldade de uns e a facilidade de outros na absorção do conteúdo.
No fim da Idade Média uma grande revolução toma corpo permitindo o acesso de qualquer informação em diferentes níveis de profundidade. Agora, cada um de nós vai estudar o que tiver vontade, aprofundar-se no tema que desejar e ir tão fundo quanto quiser.
Na década passada, ao viajar de avião, nosso entretenimento de bordo era distribuído por várias telas de TV presas no teto, todas passando o mesmo filme escolhido pela empresa aérea. Alguns anos depois, a tecnologia avançou e cada assento tinha uma TV no encosto da frente e podíamos selecionar o melhor dentre uma lista do menu oferecido. Hoje o entretenimento a bordo é individual. Acesso à internet permite que cada um assista o que quiser, na hora que der vontade.
Com o rádio, escutávamos as músicas que o DJ definia como as preferidas pela média dos ouvintes. Com Spotfy, criamos nossa própria seleção. Mas o mais importante: os algoritmos passam a trabalhar e nos sugerem mais opções que provavelmente apreciamos também. Isso significa não somente escutar o que quiser, mas receber sugestões e orientações individuais.
Antes todos líamos as mesmas notícias de jornal, com o mesmo nível de profundidade. Quem decidia o índice de análise eram os editores e jornalistas. Hoje podemos ler o que quiser, na hora que der vontade e na profundidade desejada. E, principalmente, de maneira individualizada.
Na moda, as últimas tendências levam também à valorização do indivíduo, ao contrário da ditadura da estética de tempos recentes. Hoje as pessoas buscam seu próprio estilo, a partir de opções gerais e genéricas de tendências. Há uma verdadeira ode à liberdade individual.
A mobilidade e a expansão das opções de modais de transporte também está contribuindo para o fim da idade média. Antes havia apenas a opção ônibus, taxi ou transporte próprio. Hoje temos o Uber, o car sharing, as bicicletas de aluguel, os monociclos e cada um opta por um ecossistema de transporte que melhor se adapte à sua vida.
Na propaganda e no marketing, éramos atingidos pelas mensagens de forma genérica e baseadas em médias estatísticas. A mídia de massa se encarregou de nos transformar em grupos de consumo não levando em conta a sincronicidade com cada uma de nossas vidas. Graças ao crescente uso de IA e Analytics, essa realidade também está mudando.
Junto às instituições financeiras, os juros estratosféricos que fazem os adimplentes pagar pelos inadimplentes está com os dias contados a partir de mecanismos como o cadastro positivo. E o mesmo vai se dar no universo dos seguros onde ainda motoristas responsáveis arcam com o mesmo prêmio de seguro dos irresponsáveis.
E, em breve, graças ao uso de inteligência artificial e algoritmos, não seremos mais todos passíveis de revista estressante em aeroportos e portos de chegada e saída.
Esse é o mundo que conhecemos e no qual vivemos até hoje: a Idade Média das relações comerciais, pessoais e sociais. Onde todos são avaliados pela média, pagam pela média e são tratados por essa mesma média. Mas um novo mundo está surgindo com o fim da Idade Média. E isso é uma gigantesca mudança.
A meritocracia só pode existir num ambiente de fim da Idade Média, onde cada um passa a ser incentivado a se desenvolver, se portar socialmente e se instruir adequadamente de acordo com seu esforço e vontade. Seremos donos do nosso destino, decisores de nosso futuro e responsáveis por nossas carreiras. Individualmente.
Basta avaliarmos o que está acontecendo neste momento nos universos da comunicação, da medicina, da educação e do controle social, para entender as razões de que estamos deixando a Idade Média e entrando definitivamente na Idade Mídia.
Uma nova era onde cada um de nós é um universo à parte, respeitado em sua individualidade e com capacidade de influir na sociedade. Cada um de nós daqui para a frente seremos agentes de mídia, formadores de opinião e geradores de conhecimento cada vez mais compartilhado.
Bem-vindos à Idade Mídia. E adeus à Idade Média.
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