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Depois de 22 anos no mercado, o carro mais vendido de 2014 deixa de ser produzido em Betim e marca a consolidação do novo modelo de negócios da montadora italiana

Só os diamantes são eternos. Para todo o resto, a morte é uma certeza. E isso vale até para os carros. Sejam carros baratos, carros caros ou até carros clássicos. O último modelo sepultado chama-se Fiat Palio. E isso não é pouco. Afinal, estamos falando de um automóvel que fez enorme sucesso em sua trajetória de 22 anos no mercado brasileiro. Durante duas décadas, ele foi o anti-Gol – uma opção ao mito da Volkswagen – e finalmente, em 2014, conseguiu seu único título de carro mais vendido do Brasil, desbancando o rival que reinava há 27 anos.

O Palio sai de cena por dois motivos. Primeiro: a Fiat cansou de ser conhecida como a montadora dos carros baratos. Segundo: o carro perdeu o sentido numa linha que já tem Mobi, Uno e Argo. Em 2017, sua última temporada completa, o Fiat Palio emplacou apenas 20.138 unidades, número que lhe rendeu a discretíssima 37ª posição no ranking de carros. Considerando só os hatches da própria Fiat, o Palio vendeu menos que o Mobi (54.270 unidades), o Uno (34.165) e até o novato Argo (27.925).

Fiat Palio: durante 22 anos no mercado, teve vendas expressivas, conseguiu ser o carro mais vendido de 2014 e deixa um legado importante

Nova estratégia da Fiat

Carro bonito, já dizia Enzo Ferrari, é o que vence. O Palio venceu muitas corridas de rali no Brasil e, principalmente, fez brilhantemente o papel de carro-chefe da Fiat nas vendas. Mas seu tempo passou. Dentro da nova estratégia da Fiat, ele se tornou um peso. Investir no lançamento de uma terceira geração, muito mais moderna como exigem os tempos atuais, seria mais caro do que fazer um carro totalmente novo para substituir, ao mesmo tempo, o Bravo, o Punto e o próprio Palio. E assim nasceu o Argo, que está tendo bom resultado nas vendas. Melhor que isso: o Argo está posicionado em um segmento superior ao do Palio, o que significa maior retorno financeiro para a FCA (Fiat Chrysler Automobiles).

Abaixo do Palio, por outro lado, a Fiat já tinha o Uno – um carro com mais tradição –, que não tem nenhuma versão brigando diretamente com o Argo. Para encarar os novos tempos, de busca por mobilidade diferenciada, a Fiat decidiu investir no Mobi, um carro de produção muito mais barata, que não exigiu um altíssimo investimento, e mesmo assim não precisa ter todas as suas versões com o preço lá embaixo. Assim, a estratégia da FCA foi reposicionar a Fiat como a marca dos carros diferenciados, descolados, antenados com os jovens da pós-modernidade. O Mobi teve e ainda tem algumas dificuldades, mas é mais fácil vendê-lo do que ao Palio.

A trajetória do Palio

Apesar de estar saindo de cena com apenas 188 unidades vendidas em dezembro e 205 em janeiro, o ex-campeão de vendas sai do mercado sem perder a dignidade. Já com a produção encerrada na fábrica da FCA em Betim (MG), o Palio deixa um legado importante. Ao longo de seus 22 anos no mercado, ele teve apenas duas gerações, mas cinco carrocerias diferentes.

O Palio foi lançado em 1996 com linhas arredondadas e duas opções de motores, sendo 106 cv de potência na versão 1.6 16V (a outra, 1.5, tinha 76 cv). Isso já mostrou que a Fiat queria um carro de bom desempenho, agradável de dirigir. Ele também foi o primeiro carro nacional a contar com airbags (item que hoje é obrigatório em todos os carros).

A primeira reestilização do Palio aconteceu em 2001 e teve a assinatura do estúdio italiano de Giorgetto Giugiaro, um dos papas do design automotivo. Dois anos depois, no final de 2003, Giugiaro fez a segunda reestilização no Palio e até hoje essa terceira carroceria é considerada a mais bonita. A Fiat exagerou ao promover uma terceira reestilização no Palio no início de 2007, voltando a adotar linhas arredondadas. Na época, o carro foi bastante criticado, apesar das modificações mais profundas.

Finalmente, no final de 2011, o Palio ganhou sua verdadeira segunda geração, com grandes mudanças na dianteira, na traseira e no interior, utilizando uma nova plataforma. O carro melhorou bastante e foi com esse quinto desenho que conseguiu chegar ao título de carro mais vendido do Brasil, em 2014, aproveitando a decadência do Gol.

Mas o legado do Fiat Palio vai além dele próprio. A família Palio foi composta também pelo sedã Siena e mais tarde pelo Grand Siena. Ele ainda deu origem à perua Weekend e, principalmente, à Weekend Adventure. Ao liderar a moda dos carros aventureiros no Brasil, o Palio Weekend Adventure acabou se tornando tão forte no mercado que acabou sendo rebatizado de Palio Adventure.

Nenhum outro legado do Palio, porém, é tão forte quanto o da picape Strada. Essa picapinha, construída sobre a carroceria do Palio, vem liderando o mercado há muitos anos e continua em produção. A FCA simplesmente não tem uma alternativa para a Fiat Strada, pois ela tem um conjunto de suspensão traseira extremamente eficaz para as necessidades do mercado brasileiro. Em 2017, a Strada licenciou 54.870 unidades e segue tão forte como sempre. O Palio se foi, é verdade, pois não é um diamante, não é um carro eterno. Mas seu legado permanece e ficará para sempre.

Fonte: IstoÉ Dinheiro/Sergio Quintanilha