Todo ano, desde 1967, os produtos tecnológicos mais inovadores têm um encontro marcado na Consumer Electronics Show (CES), a feira de eletrônicos mais importante do planeta.
A exposição em Las Vegas, nos Estados Unidos, apresenta “tecnologias que mudam o mundo”, como explicam seus organizadores no site oficial.
“Tranformou-se em um evento comercial de alto nível que reflete e impulsiona a economia global”, garantem.
Neste ano, entre 5 e 8 de janeiro, a feira comemora meio século de existência. São esperados 165 mil visitantes e 3,8 mil expositores de 150 países, a maior edição até hoje.
“Só alguns poucos eventos e feiras comerciais fazem sucesso por 50 anos, e ficamos honrados de pertencer a esse grupo privilegiado”, disse Gary Shapiro, presidente da Associação de Tecnologia de Consumo (CTA, na sigla em inglês), que organiza a exposição.
Shapiro disse esperar ver na CES de 2017 grandes avanços em transportes, conexões inteligentes, tecnologia 5G, realidade virtual, robótica e segurança cibernética.
É uma realidade bem diferente da edição de estreia, em Nova York, que teve 117 expositores e apenas um décimo dos visitantes aguardados nesta vez.
1967: televisão, rádio e fonógrafos
“Havia um evento (na Califórnia, EUA) chamado NAMM Show (realizado pela Associação Nacional de Comerciantes de Música, que representava os interesses da indústria musical), e uma parte pequena dela ia ser dedicada aos eletrônicos”, contou Saphiro à BBC.
“O homem que me contratou, Jack Wayman, disse que isso era inaceitável e convenceu sua organização a criar outro evento. Foi um lançamento bem-sucedido, com muita repercussão. Mas, na verdade, só havia três produtos em exposição: TVs (em preto e branco), rádios e fonógrafos.”
Com os anos, a CES foi aumentando de tamanho e influência, até se tornar um importante evento internacional com convidados de luxo e apresentações históricas.
Os principais nomes que fizeram parte dessa trajetória vão da Dell à Microsoft, passando por Cisco e Samsumg, mas também startups e pequenas empresas de eletrônicos que apostam na inovação – algo cada vez mais frequente, já que 20% das empresas expositoras sequer existiam em 2016, segundo Saphiro.
Anos 1970: fitas cassete, aparelho de som e vinis
Foi no início da década de 1970 que o evento começou a ganhar popularidade.
Em 1971, foram apresentados principalmente aparelhos de áudio, como tocadores e fitas cassetes, além de fones de ouvido, cujo preço chegava a US$ 50 em valores da época, o equivalente a US$ 297 (R$ 960) nos dias de hoje.
Em 1972, seu público duplicou, com 40 mil convidados e 300 expositores, e foram apresentados principalmente aparelhos de som para carros.
Um visitante de 1973 encontraria marcas que seguem sendo conhecidas até hoje, como Panasonic ou Sharp, mas também outras que fizeram parte de outra era, como Electrophonic.
Naquele ano, o evento começou a ser realizado duas vezes por ano. Até 1978, a maioria dos produtos expostos era de música. Então, é claro, havia também os discos de vinil.
1979: o computador
No fim desta década, a CES já havia se tornado uma grande feira de eletrônicos e, em 1979, apresentou um aparelho que revolucionaria nossas vidas: o computador.
Naquele ano, segundo a revista Computerworld, cerca de 30 fabricantes compareceram ao evento, entre eles a Apple. A Atari lançou seu computador pessoal de 8 bits.
Em 1981, foi apresentado pela primeira vez o disco compacto (CD) e a filmadora pessoal.
Em 1984, a CES bateu recorde de público, com 100 mil visitantes em cada uma de suas edições, no verão e no inverno. Aquele ano foi marcado pelo lançamento do computador pessoal Amiga, que fez sucesso nesta década e na seguinte.
1985: o videogame
Antes de 1985, a CES já tinha videogames, mas seria apresentado neste ano um console doméstico que se tornaria bastante popular: o videogame NES, da Nintendo.
A edição de inverno de 1988 foi notável por um famoso jogo, o Tetris, que ajudaria a impulsionar o videogame portátil Game Boy, também da Nintendo, a partir de 1989.
Anos 1990: telefonia celular
Os anos 1990 ficariam célebres pela chegada da telefonia móvel à CES. No evento do primeiro ano desta década, mais de 1,6 mil jornalistas compareceram à feira.
O ano de 1992 foi o último que teve a participação da Apple. No seguinte, a Sony apresentou o disco óptico MiniDisc, que foi considerado um grande avanço na época, ainda que, mais adiante, tenha sido superado pelo CD e o DVD.
Em 1996, chegaram os celulares flip, com o Star Tac, da Motorola, causando furor ao se tornar o primeiro a ser lançado no mercado.
A partir de 1999, a feira passou a ser organizada novamente uma vez por ano, no inverno do hemisfério norte, e em Las Vegas.
Em 2003, a Microsoft se tornaria um de seus personagens mais importantes, e seu presidente, Bill Gates, o rosto oficial das apresentações, até ele deixar o cargo em 2008 – ainda que a companhia tenha seguido na CES até 2012.
A partir de 2005, a CES já era o evento de tecnologia mais importante do ano e contava com 150 mil visitantes, com a presença de celebridades e veículos de imprensa de todo o mundo, sendo restransmitido pela internet.
A BBC cobre a feira desde 2007.
“Calculamos que tenham sido apresentados 600 mil produtos diferentes na CES até hoje”, disse Saphiro.
“Vimos coisas como o tocador de CD, o videocassete, o computador pessoal em diferentes versões, as TVs de alta definição e ultradefinição, os drones, os robôs… Praticamente toda nova categoria de produto, inclusive os tablets, foi lançada na CES.”
Mas a própria tecnologia – remota e digital – promovida hoje pela feira a tornará absoleta?
“Acredito que o contato humano, a experiência de estar ao vivo com uma pessoa real é algo que não será substituído nos próximos 50 anos”, respondeu Saphiro.