A avaliação é que a modalidade traz mais perdas do que ganhos para as empresas. Além de despesas e prejuízos com a inadimplência, o produto prejudica a imagem dos bancos e o relacionamento com o cliente.
A má fama do cartão está na taxa de juros do rotativo, de 450% ao ano, em média, o que leva a uma alta inadimplência, de 36%, segundo a Abecs. Já considerando todas as linhas de crédito para pessoa física, a taxa é de 4,3%, segundo o Banco Central.
O crédito rotativo responde por 20% dos recursos movimentados pelos usuários de cartões, diz a associação.
Outra opção para quem não pode pagar toda a fatura, que responde por menos de 10% das concessões, é definir com a administradora a quantidade de parcelas em que o débito será quitado, com juros menores do que no rotativo, em torno de 150% ao ano. O patamar é próximo de uma linha de crédito pessoal, mas bem superior ao crédito consignado, por exemplo.
Marcelo Noronha, presidente da Abecs, afirma que entre as iniciativas em estudo está limitar o prazo em que o cliente pode ficar no rotativo e, a partir daí, migrá-lo para uma linha de crédito com juro menor.
A solução pode ser definitiva ou vigorar por um período de transição, depois do qual o produto acabaria.
ESTRATÉGIA
O mais provável é que o setor proponha três ou quatro opções que serão adotadas pelos bancos de acordo com a estratégia de cada um. “Você poderia eliminar o rotativo. É uma possibilidade em discussão”, diz Noronha.
As mudanças não dependeriam do governo, embora devam passar pelo crivo do Banco Central. “Se for num caminho que atenda ao desejo da sociedade e do setor, então talvez isso seja suficiente para virar essa página.”
Na prática, uma parte das propostas da Abecs já tem sido adotada pelos bancos, que, com o agravamento da crise e do desemprego, temem perder clientes.
O vice-presidente de Negócios de Varejo do Banco do Brasil, Raul Moreira, diz que a ordem é não deixar ninguém pendurado por mais de 30 dias. Após 15 dias, o BB passa a oferecer opções com juros mais baratos.
Segundo a instituição, cerca de 20% dos clientes nessa linha são pessoas de alta renda. Outros 60% têm linhas com taxas menores à disposição, como o consignado, mas desconhecem a opção ou resistem em fazer a troca.
Os que realmente não têm outra opção são cerca de 20%. “Não adianta ter lei se o cliente tiver uma percepção errada sobre o produto”, afirma Moreira.
Marcos Magalhães, diretor da área de cartões do Itaú Unibanco, afirma que o banco sempre incentivou o uso do parcelado com juros, que até supera as suas operações com rotativo.
“Como estamos vivendo uma época de crise, a gente está sendo ainda mais incisivo com os clientes”, diz. “A gente indica outras linhas mais baratas. A receptividade é altíssima.”
Rodrigo Cury, superintendente executivo de cartões do Santander, afirma que o banco incentiva os clientes a trocarem essas dívidas por produtos da linha “crédito sob controle”.
“O cheque especial e o rotativo são créditos emergenciais, para quando há um problema de dias ou de uma semana. Não deve financiar o dia a dia”, completa.
POR DENTRO DO CARTÃO DE CRÉDITO
O que é o rotativo do cartão?
É uma linha de crédito pré-aprovada, contratada pelo cliente quando ele paga um valor abaixo do total devido no cartão de crédito. Tem taxa de juro de 450% ao ano, a mais cara entre todas as linhas
Por que esse crédito é tão caro?
Quanto mais fácil pegar o empréstimo, mais caro ele vai custar. Isso porque a facilidade de contratação do crédito aumenta a chance de o cliente não conseguir pagar a dívida. Como o calote é um custo para o banco, ele cobra mais para compensar esse risco
O que é o parcelamento de fatura?
Quando o consumidor percebe que não vai conseguir pagar o valor integral da fatura, ele pode optar por parcelar o valor devido. Nessa linha, os juros médios são de 150% ao ano
Parcelar a fatura é vantajoso?
A linha é mais barata que as taxas de juros do rotativo, mas ainda é um crédito caro. Se o cliente está endividado no cartão, o melhor é negociar com o banco um empréstimo pessoal mais barato. Algumas opções são o crédito consignado ou o empréstimo com bem como garantia (como o imóvel ou o carro)
Por que os bancos querem acabar com o rotativo?
Eles alegam que, além do custo para o banco com a inadimplência, as altas taxas de juros sujam a imagem da instituição financeira.
Na prática, a tendência é que o cliente que tenha aumentado muito sua dívida no cartão nunca volte a usar o produto. A instituição também corre o risco de perder o correntista para um concorrente após a experiência ruim.
EDUARDO CUCOLO
DE BRASÍLIA